Há um texto muito interessante da Revista Educar ano 2005,
que fala exatamente sobre isto ressalta que há um período da infância em que
comumente vemos crianças dando mordidas ao primeiro sinal de estresse. Isso
porque, nos primeiros anos de vida, as crianças passam pelo que chamamos de
“fase oral”.
O termo, criado pelo pai da psicanálise Sigmund Freud,
explica o estágio mais primitivo de desenvolvimento, quando as necessidades,
percepções e modos de expressão da criança estão originalmente concentrados na
boca, lábios, língua e outros órgãos relacionados com a zona oral. As crianças
na idade oral ainda não verbalizam com fluência e a linguagem do corpo acaba
sendo mais eficaz. Nesta fase ela é egocêntrica, o que significa que imagina
que o mundo funciona e existe por causa dela. Portanto, em sua concepção, tudo
o que deseja deve ser prontamente atendido e, quando isso não ocorre... Nhack
A mordida é uma das primeiras formas de relacionamento, seja
pela disputa de objetos ou pela atenção; o que a criança deseja ao morder um
amiguinho não é agredi-lo, mas sim obter de forma rápida algum objeto ou chamar
atenção. Pais e educadores devem entender que a liberdade para a disputa é
fundamental para o desenvolvimento humano, mas é claro que devem se empenhar
para que esse comportamento seja controlado, incentivando a criança a utilizar
sempre a linguagem verbal.
A passagem da fase acontece de forma gradativa, quando a
criança sai do egocentrismo e começa a descobrir o prazer de brincar com o
outro, quando se inicia o processo efetivo de socialização e conforme as
crianças crescem, elas aprendem a controlar suas emoções e se expressar através
da fala, deixando a mordida de lado. “O importante é que tanto a escola quanto
os pais saibam usar este momento para ensinar á criança regras de convivência”.
Apesar de, na maioria das vezes, a mordida fazer parte do
desenvolvimento natural da criança, alguns psicopedagogos alertam que, em
alguns casos, este comportamento pode sinalizar um problema de ordem emocional.
“Se estas mordidas passam a ser freqüentes, a criança pode estar insatisfeita,
ansiosa, com sentimento de rejeição e tenta chamar a atenção através da
agressividade. Quando isso acontece, a família e a escola precisam acompanhar
de perto e com atenção para descobrir as possíveis causas. Falta de carinho e
atenção?! Como é a estrutura familiar?! E, dependendo do caso, é importante
buscar a ajuda de um psicólogo”, orientam.
Contudo os casos de ordem emocional não são em si a maioria.
Definimos então como necessária a compreensão de um dos mais
importantes estágios do desenvolvimento psicossexual infantil, e por acreditar
nisso que retirei um breve texto sobre o assunto do livro Compêndio de
Psiquiatria dinâmica de Kaplan & Sadock, Ed. Artes Médicas, que relata a
fase das mordidas também chamada de fase oral.
COMO SE DÁ ESSE ESTÁGIO OU FASE ORAL:
Definição: Este é o estágio mais primitivo do
desenvolvimento. As necessidades, percepções e modos de expressão do bebê estão
originalmente concentrados na boca, lábios, língua e outros órgãos relacionados
com a zona oral.
Descrição: A zona oral mantém seu papel dominante na
organização da psique através dos 18 primeiros meses de vida aproximadamente.
As sensações orais incluem: a sede, fome, estimulações
táteis, prazerosas evocadas pelo mamilo ou seu substituto, sensações
relacionadas com a deglutição e satisfação.
Os impulsos orais consistem em dois elementos separados:
libidinal e agressivo.
Os estados de tensão oral levam à procura da gratificação
oral, tipificada pela tranquilidade no final da alimentação. A trindade oral
consiste no desejo de comer, dormir e alcançar a relaxação que ocorre no final
da sucção, logo antes de começar a dormir. As necessidades libidinais (erotismo
oral) são consideradas predominantemente nos primeiros estágios da fase oral;
mais tarde mesclam-se com componentes agressivos (sadismo oral). A agressão
oral pode manifestar-se na ação de morder, mastigar, cuspir ou chorar. Está
vinculada aos desejos e fantasias primitivos de morder, devorar e destruir.
Objetivos:
· Estabelecer uma dependência confiante nos objetos que
proporcionam cuidados e apoio;
· Estabelecer expressão confortável e gratificação das
necessidades libidinais orais sem excessivo conflito ou ambivalência de desejos
orais sádicos.
Traços Patológicos: A gratificação ou privação oral em
excesso podem resultar em fixações libidinais, que contribuem para os traços
patológicos. Esses traços podem incluir excessivo otimismo, narcisismo,
pessimismo (visto com frequência nos estados depressivos) e o hábito de
reclamar. Os caracteres orais são, com frequência, excessivamente dependentes e
exigem que os demais os sirvam e olhem por eles. Tais pessoas querem ser
alimentadas mas podem desistir excepcionalmente a fim de conseguir ser servidos
em retribuição. Os caracteres orais muitas vezes são extremamente dependentes
dos objetos para manter a auto-estima. A inveja e o ciúme estão frequentemente
associados aos traços orais.
Traços de Caráter: O êxito na resolução da fase oral
proporciona uma base na estrutura do caráter para a capacidade de dar e receber
sem excessiva dependência ou inveja; uma capacidade de confiar nos outros com
um sentimento de segurança e com sentimentos de confiança e segurança próprios.
É meus caros amigos educadores e curiosos a respeito do
comportamento infantil e humano, nada na verdade parece ser o que é realmente
né?
Pois é, a criança é uma caixinha de surpresas que podem ser
agradáveis ou não, depende de quem as conduz.
Observar as fases de desenvolvimento é o caminho para muitos
problemas futuros que são facilmente agregados a personalidade ainda em
formação.